Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação) apontam que se produz, em todo planeta, duas vezes a quantidade de
alimentos necessária para alimentar a população mundial. No entanto, um estudo realizado pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos
do Reino Unido, denominado "Global Food Waste Not Want Not", fornece
outro dado alarmante: a metade destes alimentos vai parar no lixo por causa,
principalmente, do desperdício.
Outro
dado já conhecido amplamente, e confirmado pelo estudo, é relacionado à
pecuária: para produzir um quilo de carne, se gasta até 25 vezes mais de
recursos energéticos, terra e água, do que seriam necessários para produzir um
quilo de batatas, por exemplo, evidenciando os custos ambientais não
internalizados na produção massiva, como o consumo e deterioro das águas, o
desmatamento e a utilização de esquemas complexos de transporte e energia.
A
conclusão indica uma opção no enfrentamento para a crise mundial de alimentos:
ao invés de gastar 90% dos grãos produzidos atualmente para o consumo de bois,
se poderia destinar todo este alimento (cujo montante poderia abastecer 8
bilhões de pessoas) para locais em situação de penúria alimentar, como a África.
O
desafio, neste caso, consiste em enfrentar o poderio das transnacionais que
dominam o mercado das sementes e dos agroquímicos, e que faturam ganhos
exorbitantes enquanto um número cada vez maior de pessoas incrementa o grupo
dos que não têm acesso a uma alimentação digna, apesar do desenvolvimento
tecnológico que se tornou a marca do século XXI.
Empresas
como Cargill e Monsanto são as principais defensoras de uma política enfocada
no agronegócio para a produção de grãos que são destinados, principalmente,
para os rebanhos bovinos no mundo.
Além
disso, se constituem nas principais causadoras de concentração de terras e do
êxodo rural, que obriga anualmente milhares de pessoas a saíram do campo rumo à
cidade, em busca de oportunidades melhores de vida.
O que
estas pessoas encontram no meio urbano, na maioria das vezes, são subempregos,
miséria e violência.
O agronegócio no Brasil
Atualmente
um dos principais exportadores de soja e carne a nível mundial, o Brasil se
firmou como um país que prioriza os grandes proprietários de terra, em
detrimento dos pequenos agricultores que produzem para a subsistência familiar.
Um
exemplo é o Estado do Maranhão, cuja população assistiu inerte, na última
década, a um incremento na produção de soja da ordem de 3000%.
No
início da década de 90, a soja representava 1% dos cultivos. Hoje, este índice
está na casa dos 33%, mas a tendência é aumentar, haja vista a disparidade de
verba pública destinada a projetos de monocultivos.
Maria Lúcia Vieira, atual secretária de Política Agrária da Fetaema
(Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na Agricultura do Estado do
Maranhão), afirma:
"No ano passado, apenas 604 contratos do
agronegócio receberam 571 milhões de reais, enquanto foram destinados 333 milhões
para 83.706 contratos da agricultura familiar. A média, por contrato, é de 4
mil reais para agricultura familiar e 950 mil reais para o agronegócio. É 237
vezes mais, uma desproporção de investimentos brutal!"
Ela afirma que este modelo baseado nos monocultivos
de soja, cana de açúcar e eucalipto, além de provocar a exaustão das terras férteis,
faz com que a riqueza fique nas mãos de poucos, enquanto a maioria de pequenos
agricultores é obrigada a assistir seus filhos migrarem para outros Estados,
pela impossibilidade de viver dignamente do trabalho no campo.