sábado, 4 de maio de 2013

BRASIL: operários do canteiro principal da UH Belo Monte apóiam protesto indígena

Foto: Cimi

Os indígenas acampados no canteiro principal das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foram surpreendidos nesta sexta-feira, 3, com a presença de 100 policiais das polícias Militar e Civil do Pará, que chegaram ao local para executar um mandado de reintegração de posse, expedido pela Justiça estadual, contra os "brancos" que estavam apoiando o protesto: dois jornalistas e um pesquisador. Os índios responderam com uma carta pública e foram aplaudidos de pé por quase 2000 trabalhadores que vivem neste acampamento.

Pouco depois, o assessor da Secretaria de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Avelino Ganzer, foi até o canteiro ocupado, escoltados por policiais, para propor uma reunião entre uma comissão indígena definida por eles e um grupo interministerial, em Altamira, na próxima segunda, 6.

O pedido foi recusado. “Se querem conversar, terão de vir até aqui. Não iremos para Altamira. Já fomos muito atrás do governo e agora queremos que eles venham até nós”, disse Valdenir Munduruku. 

Como resposta, eles lançaram outra carta a público, conclamando o apoio da sociedade brasileira contra o polêmico projeto e reafirmando suas posições. Veja a seguir.


Carta da ocupação nº 2: sobre a pauta da nossa ocupação de Belo Monte

Não estamos aqui para negociar com o Consórcio Construtor Belo Monte. Não estamos aqui para negociar com a empresa concessionária Norte Energia. Não temos uma lista de pedidos ou reivindicações específicas para vocês

Nós estamos aqui para dialogar com o governo. Para protestar contra a construção de grandes projetos que impactam definitivamente nossas vidas.

Para exigir que seja regulamentada a lei que vai garantir e realizar a consulta prévia - ou seja, antes de estudos e construções!

Por fim, e mais importante, ocupamos o canteiro para exigir que seja realizada a consulta prévia sobre a construção de empreendimentos em nossas terras, rios e florestas.

E, para isso, o governo precisa parar tudo o que está fazendo. Precisa suspender as obras e estudos das barragens. Precisa tirar as tropas e cancelar as operações policiais em nossas terras.

O canteiro de obras Belo Monte está ocupado e paralisado. Os trabalhadores que vivem nos alojamentos nos apóiam e deram dezenas de depoimentos sobre problemas que vivem aqui.

São solidários à nossa causa. Eles nos entendem. Tanto eles quanto nós estamos em paz. Tanto eles quanto nós queremos que os trabalhadores sejam levados para a cidade. O Consórcio Construtor Belo Monte precisa viabilizar a retirada dos trabalhadores a curto prazo e garantir abrigo para eles na cidade.

Nós não sairemos enquanto o governo não atender nossa reivindicação.

Canteiro Belo Monte, Vitória do Xingu, 3 de maio de 2013

Assinam os indígenas caciques e lideranças, ribeirinhos e pescadores da ocupação pela consulta.